Artigo de opinião sobre níveis e escalas urbanas.
por Franklin, Ianara, Karolynne, Thaís e Virna
De acordo com Harvey, em sua ideia de desenvolvimento geográfico desigual, o capital e o trabalho buscam as melhores condições para perpetuação de sua existência. Desse modo, as diferenças históricas existentes entre espaços geográficos não são frutos do acaso e nem do atraso em seu desenvolvimento, mas resultantes do processo de produção capitalista produzidos no espaço. Desse modo, a sociedade não é estática: possui o movimento social produzido pela tensão entre as lutas sociais, a política e a presença de organizações de classes no território.
Tomando como ponto de partida o pensamento de Harvey, Freitas (2013) diz que o mercado imobiliário considera o valor ecológico de alguns ecossistemas como atrativo para uma população com faixa de renda superior, disposta a morar em bairros afastados da zona central, com maior contato com a natureza. Consideramos um grande exemplo disso a região do Eusébio.
Segundo o Plano Diretor Participativo do Eusébio, o município possui recursos hídricos em abundância, com a presença de lagoas e de riachos. Ademais, possui em sua constituição geográfica um quadro de paisagens naturais com diferentes níveis de estabilidade. Assim como em Fortaleza, possui território predominante de tabuleiros pré-litorâneos, sistema com grande capacidade de suporte para os processos de urbanização.
A divisão desigual do espaço urbano cresce absurdamente rápido e a especulação mobiliária toma conta dos espaços com maior potencial e valorização comercial, como é o exemplo do Alphaville no Eusébio. Os recursos naturais de áreas como essas são usados como um atrativo de venda. Em Fortaleza, por já estar bastante urbanizada, não há mais tantos espaços com vegetação natural, o que acaba também por desvalorizar novas construções na capital. Assim, a região metropolitana de Fortaleza passa a ser bastante visada para tais fins, sendo a população de menor poder aquisitivo cada vez menos valorizada e sendo “jogada” para áreas frágeis ou com menor potencial construtivo.
De acordo com o pensamento marxista, a principal característica da sociedade capitalista é a apropriação privada dos bens produzidos coletivamente. Com a produção social, tudo o que é produzido coletivamente fica subordinado a quem controla os meios de produção. Assim, as classes dominantes acabam também por apropriar-se das tecnologias (BARRIOS et. al, 1986), inclusive construtivas, e consequentemente, apossar-se dos recursos naturais, como um atrativo exclusivo e pertencente apenas a elas.
Em vista do exposto, consideramos acertada a visão de Harvey acerca do desenvolvimento geográfico desigual, pois, tomando como exemplo o fato apresentado por Freitas, aquela visão se confirma uma vez que é visível o domínio do capital por meio do mercado imobiliário sobre a região metropolitana de Fortaleza, que explora os ecossistemas naturais em benefício das classes mais altas. Dinâmica essa que acaba por privar o espaço público da própria sociedade e por monetizar os bens naturais.
Nós, como futuros arquitetos e urbanistas devemos ir de encontro a dinâmicas como essa desde nossos estudos e pesquisas, promovendo uma formação do espaço que beneficie plenamente a sociedade, dando-lhe acesso à moradia e ao meio ambiente, e não concordando com a lógica do capital e do mercado imobiliário, que privilegia apenas uma determinada classe social, em detrimento das demais.
Referências
BARRIOS, Sônia et al. A construção do espaço. Texas: Nobel, 1986. 149 p.
FREITAS, C. F. S. Ilegalidade e degradação em Fortaleza: os riscos do conflito entre a agenda urbana e ambiental brasileira. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, v. 6, n. 1, p. 109-125, jan./abr. 2014.
LIMONAD, Ester. Reflexões sobre o espaço, o urbano e a urbanização. In GEOgraphia, Ano 1, N. 1, p.71-91.
MENDOZA, Luís Gabriel Menten. As escalas do desenvolvimento (geográfico) desigual em David Harvey e Neil Smith. In Anais do I Congresso Brasileiro de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território, 2014. Rio de Janeiro. Porto Alegre: Ed. Letra1; Rio de Janeiro: REBRAGEO, 2014, p. 676-686.
PREFEITURA MUNICIPAL DE EUSÉBIO. Plano Diretor Participativo do Eusébio: Produto III Leitura técnica. Eusébio: PME, 2008.
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