Blog desenvolvido como trabalho da disciplina de Planejamento Urbano e Regional 2 do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, no semestre 2018.1. Aqui escreveremos artigos relacionados ao tema, propondo uma análise crítica e esclarecedora.

Resenha: o reino urbano e a morte da cidade

Uma resenha crítica sobre o texto de Françoise Choay.
por Franklin, Ianara, Karolynne, Thaís e Virna

     Françoise Choay dedicou-se à teoria e à história da arte, da arquitetura e do urbanismo, publicando diversos estudos sobre o tema, sendo professora de urbanismo, de arte e de arquitetura na Universidade de Paris.
     Comecemos pela interpretação do título proposto, que preconiza como tema principal o estudo da natureza da urbanização e, como problema, o desaparecimento da cidade tradicional. O texto analisa o urbanismo no âmbito histórico, desenvolvendo-se sobre os conceitos de cidade, urbanismo e técnica. Assim, inicialmente uma análise lexical traduz a origem dos termos, bem como suas primeiras propostas. Nos primeiros parágrafos deparamo-nos com a seguinte problemática: “Mas urbanização é sinônimo de produção da cidade?” Choay afirma que não temos o hábito de mudarmos as palavras quando mudamos os comportamentos e isso resulta numa confusão no nosso quadro mental, nos levando ao arcaísmo.
     Trilhando esse caminho, a problemática central recai sobre a seguinte: “Não seria então tempo de admitir, sem culpas, o desaparecimento da cidade tradicional e de se interrogar sobre aquilo que a substituiu, (...), sobre a natureza da urbanização e sobre a não-cidade que parece ter se tornado o destino das sociedades ocidentais avançadas?” Dessa forma, a autora questiona e ao mesmo tempo induz o leitor à compreensão da sua defesa sobre o tema. Choay defende que o urbano precede e exerce um certo poder se comparado à cidade, inclusive possuindo um peso lexical que conflita com os seus significados durante os anos, e é sobre essa forma de pensar que guia o leitor a passear com ela através da história, na tentativa de responder a questão inicial proposta.
     A análise segue com as grandes obras urbanas executadas por Cerdá e por Haussmann, que obtiveram sucesso ao manterem escala e estética em Barcelona e em Paris, respectivamente, no século XIX. Segue então, dissertando sobre as propostas progressistas versus conservadoras, como a Cidade Radiosa de Le Corbusier, que não trouxe as soluções necessárias para as cidades da época devido ao apelo utópico.
     Para apresentar sua defesa, Choay mostra que as etapas de transformação urbana ocorridas entre 1870 e 1990 foram resultados e resultantes de transformações tecnológicas que demarcaram esses períodos, tais como as novas tecnologias de construção, os transportes e as telecomunicações. Concomitantemente, a autora usa os modelos de urbanização adotados pelas cidades para exemplificar essas transformações.
     Ao demonstrar as transformações ocorridas, Choay expõe sua opinião sobre o assunto e defende que há uma separação entre a urbs e a civitas, o urbano e a cidade. Ou seja, a tecnologia empregada sobre a cidade, condiciona a cidade ao urbano, e o “urbano”, interligado ao conceito de “avanço tecnológico”, adentrou os espaços do campo. Cidade e campo, ambos regidos por um sistema operatório que influencia a forma de comportamento e os relacionamentos sociais, resultando em comunidades cada vez mais complexas, numerosas e diversas, peças de uma coletividade abstrata que se concentra num espaço para usufruir do que a cidade por meio da tecnologia empregada pode proporcioná-las.
     Carlos Vainer ratifica a visão de Choay ao dissertar sobre planejamento estratégico em seu artigo Pátria, empresa e mercadoria. A adoção dessa corrente do urbanismo vem crescendo nas últimas décadas em meio à globalização: as cidades passaram a ser geridas e administradas como empresas, afirma o autor, de modo que quem as governa é o capital, em detrimento dos investimentos básicos tais como moradia, saúde e educação, que passam a ser menosprezados por seus governantes, estes cada vez mais preocupados em vender suas cidades internacionais. Por isso é visível aí o investimento nos atributos do território físico da cidade (urbs) em detrimento da comunidade de cidadãos que a habitam (civitas).
     Assim, o texto é interessante como uma introdução ao pensar sobre planejamento urbano, pela análise universal que propõe acerca das diversas formas de urbanismo já existentes, levando-nos de uma visão universal à comparação com a nossa realidade. É interessante também ver, ao comparar com o artigo de Carlos Vainer, que atualmente os esforços de planejamento urbano concentram-se não mais na forma urbana ou territorial, mas sim na cidade do capital, isto é, o planejamento estratégico, chave do urbanismo do século XXI, transforma as cidades em mercadorias que precisam ser vendidas.
     Não obstante, apesar de Choay trazer informações relevantes para o entendimento do texto e para formação de urbanistas, a forma escolhida de exposição do conteúdo dissertado no texto dificulta a compreensão da sua tese, pois o uso de exemplos é fundamental para a compreensão do leitor, porém quando seu uso é extenso e detalhado, acaba por confundir e pode dificultar a separação entre exemplo e opinião do autor por não ter uma separação clara. O caráter sintético seria imprescindível para absorção e reflexão sobre os argumentos propostos. O tema em questão é abordado também por outros autores, porém Choay traz sua visão e leva a uma nova compreensão: é sempre válido discutir sobre um tema tão impactante tanto para a sociedade do século XIX quanto para a do século atual, pois apesar de a cidade ter se transformado bastante ao longo desse período, a questão da urbanização e suas adversidades ainda necessitam de atenção e intervenção.

Referências
CHOAY, Françoise. O reino urbano e a morte da cidade. São Paulo / Proj. História, 1999.
VAINER, Carlos B. Pátria, empresa e mercadoria. In: A cidade do pensamento único: desmanchando consensos (pp. 75-105). Petrópolis, RJ. Vozes, 2000.

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